sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Hotel dos Corações Perdidos



Lembro como ontem, duas vezes por semana acuada em um banco de madeira esperando por um olhar e duas palavras, sedução amor e ódio, raiva desejo e sexo.
Eu no auge do vigor físico e ela na fase épica de descobertas corporais, dois loucos dançarinos de músicas curtas sem olhares por timidez e sem atitudes por falta de maturidade.
Eu hipnotizado pela beleza e descrição, e consumido por um desejo infantil de status, ela um eterno mistério pronto para ser desvendado.
Aquele palco escuro onde eu sempre ficava, na mesma posição e com a mesma intenção de música em música ficou para traz e eu já não podia mais observar o jeans escuro e as roupas discretas somente sorrisos tímidos e vozes de incentivo.
Como um louco andei descalço por anos, evolui a mente, o corpo muito mais batido, o rosto mais cansado e úmido de suor, os pensamentos mais humildas e a vida mais firme, mais corrida.
O adolescente louco dá lugar ao homem poeta de duras palavras e muitos desejos, entre idas e vindas da vida hoje posso observar com outros olhos o que um dia era apenas sonho.
O sonho?
Vou te contar o sonho!
Era noite e se passava no lugar mais incrível de São Paulo, chovia e era inverno.
Eu só queria dançar, queria beijar e dançar, queria beijar dançar e fazer amor!
Nas minhas curtas caminhadas noturnas me deparei com a menina solitária do palco e da pele clara. Vi em seus olhos sombrios desejo e dominação e eu, o cara que sempre foi confiante, apenas baixei a cabeça sentindo-me fraco, com medo e com frio na barriga.
Chovia muito, eu utilizava jaqueta de couro, jeans e boina, ela sobretudo preto, boca rosada de frio, sapatos vermelhos e unhas combinando.
Ela tocava meu rosto com sua mão fria, deslizava em meu peito e silenciava-me em um beijo.
Me apertava forme e começava a dançar, olhávamos para o céu, éramos apenas eu, ela, a lua e a chuva, nada mais existia.
Os carros sumiam, os faróis paravam, e um hotel ascendia a luz.
O hotel se chamava Hotel dos Corações Perdidos.
Ela pedia para eu deitar na cama, e repousava seu corpo úmido sobre o meu, acariciava minha pele e seduzia meu espírito, meu corpo e minha mente.
Em minutos tomou conta de mim, murmurou em meu ouvido palavras sedutoras de veludo, toquei seu rosto e éramos um só ...
Esse é meu sonho de noites perdidas em um Hotel de Corações Perdidos.