João Ninguém
Porra! Sou brasileiro e gosto de churrasco, carnaval e futebol. Gosto de mulher, sexo e cerveja.
Sou apenas mais um cidadão que batalha, trabalha doze horas e ganha um salário vergonhoso. Sou eu, aquele cara que chega suado com o uniforme da empresa louco por um prato de arroz com bife, um banho e uma boa noite de sono.
Sou o mesmo cara que dorme na casa com goteiras, que tem um cachorro vira-latas, amigos que se convertem e também os que se drogam, tenho um chefe parasita.
Sou o mesmo cara que sonha em ter um bom Natal em família, em viajar ou apenas ir ao cinema. O mesmo cara que não pôde ler um livro mais ainda assim venceu na vida.
Venci sem mostrar minha bunda, sem dar pra ninguém e sem ter que maltratar a educação humilde que minha mãe me ofereceu. O cara que é culpado de ser inocente.
Porra fiz merda pra caralho e também acertei em muitas coisas!
Deito pra rezar, acordo pra comer, ouço meu samba enquanto encaro o frio, a chuva e o transito da selva de pedra.
Sou eu, o mesmo menino catarrento que jogava bola nas ruas de pedra, brincava de esconde-esconde e policia e ladrão, aquele que levou boas surras de sandália e que aprendeu a ser homem.
Você aí de cima, do poder, da mídia, das revistas e do rosto impecavelmente liso, eu sei fazer uma coisa que você não sabe. Eu sei lavar louça e varrer um tapete, sei respeitar as empregadas e fazer piada com minha desgraça.
Sou eu mesmo, o João Ninguém que vocês roubam todos os dias, que trabalha com honestidade, o cara que tem orgulho do pouco que tem, da água que bebe, sou brasileiro, sofredor, lutador, pagodeiro de feriado, peão de obra, peladeiro de domingo, cobrador de ônibus, limpador de rua, entregador de jornal, vendedor de bananas, professor, açougueiro, cortador de cana e padeiro. Sou artista de rua, mendigo que pede esmola, secretário e atendente de quitanda, não apareço na TV mas não preciso da minha imagem pra viver pois eu sou a imagem do meu país.